Sobre

Preservando o patrimônio humano e cultural

O técnico em anatomia, Valfrido Rodrigues Santos foi o inspirador do Museu de Anatomia da UFMS. Em entrevista, ele nos conta um pouco de sua trajetória de 30 anos.

Acredita que a Anatomia o escolheu. A sua carreira como técnico em Anatomia na UFMS iniciou no ano de 1981, por convite de um amigo, sendo que nessa época não havia concurso para o cargo.

Durante sua fase inicial de seu trabalho, revela que foi autodidata. Com algumas orientações conseguiu por conta própria aprender a dissecção. Em 1985 fez um curso de Técnicas Anatômicas, na Escola Paulista de Medicina, a atual Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

No início o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Da UFMS era um espaço muito pequeno e compartilhado por outros 4 cursos. A dissecação era realizada fora do horário de aulas. Pouco depois, com o aumento do número de cursos e de alunos, houve muitas mudanças, principalmente no espaço físico, deslocando-se para seu atual endereço, na Av. Filinto Muller, atrás do Lago do Amor. Com isso, houve uma melhora na condição de trabalho.

Considera que a maior dificuldade em sua carreira foi trabalhar sozinho, pois as atividades eram intensas e destaca, principalmente o manuseio e transporte das peças, para montar e desmontar as aulas e atividades práticas, em razão do peso. Relata que isso proporcionou experiências que foram fundamentais para o seu crescimento tanto profissional como pessoal. A Universidade ampliou sua visão de vida.

Dentre as técnicas utilizadas que empregou no preparo das peças estão: dissecação pura, a técnica de Giacomini com uso de glicerina, o clareamento de ossos com peróxido de hidrogênio, a injeção e corrosão, a maceração e a insuflação de vísceras. Ele confeccionou muitas peças da região de cabeça e pescoço, sendo a sua predileta a de crânio, com os nervos cranianos e outras estruturas encefálicas. Isso se deve ao curso de Odontologia, o que mais solicitava peças, sendo elas usadas ainda hoje nas aula de graduação e outras atividades do setor, como as mostras do Museu.

Pensando no futuro, ressalta a dificuldade de conseguir cadáveres e a necessidade de técnicas que aperfeiçoem a conservação dos mesmos. A conservação poderia ser obtida por técnicas mais sofisticadas, como a plastinação, para a qual se qualificou, na Espanha, em 2009. Mas, acredita que nada substitui a manipulação do cadáver in natura. Ressaltou as técnicas que mantém o cadáver com uma textura mais apropriada, que são mantidos em ambiente refrigerado.

Desde que entrou na UFMS ele próprio havia aventado a implantação de um Museu, como uma forma de criar um acervo para expor a mais pessoas as peças mais interessantes e dar acesso a um maior número de pessoas entrarem em contato com esse conhecimento.  Foi com a iniciativa da Prof.ª Dr.ª Jussara Peixoto Ennes, em 2008, que o sonho tomou corpo e o Museu começou a ser implantado. Valfrido diz se sentir muito feliz com a criação do Museu, já que foi idealizado como uma forma de perenizar seu trabalho.

Espera que o Museu se torne algo fantástico, que o acervo aumente muito, com a contribuição de novos técnicos, professores e alunos. Que seja uma experiência singular para quem o visitar.  Acredita que essas visitas podem vir a despertar interesse nas pessoas pelos cursos nas áreas biológicas e da saúde. Sonha com coleções de peças de patologias e com uma coleção numerosa de fetos, mesmo não estando mais envolvido com a produção e organização dessas, no Museu.